REAL – Revista de Estudos Alemães : 2010, No. 1 = Estudos Alemães em Portugal ; Tendências recentes da investigação germanística
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Um olhar rápido sobre os títulos constantes da sua biblioteca particular torna claro que Pessoa lia os autores alemães em traduções inglesas e francesas. Contudo, um escrutínio mais atento da sua biblioteca e dos seus apontamentos revela que o acompanharam ao longo da sua vida não só uma vontade mas também algumas tentativas concretas de enveredar pelo estudo da língua alemã, no intuito de fazer justiça à sua própria imposição formulada por volta do ano de 1912:
"Um grande poeta retórico ou epigramático pode ser lido em tradução, sendo ela boa; quem não sabe a língua, escusa, havendo essa boa tradução, de por tão pouco a estudar. Mas quem quiser ler um poeta lírico não pode aceitar tradução nenhuma, por fiel que seja à alma do poeta. Tem de aprender a língua em que a poesia foi escrita. [...]"
Sabendo-se que Fernando Pessoa nunca dominou a língua alemã, pretende-se, neste estudo, delinear o percurso da sua relação com esta língua e o modo como ela se liga à sua leitura de um autor que, embora em muito menor escala que Goethe, emerge nalguns pontos da actividade de Pessoa enquanto leitor crítico: Friedrich Schiller.
Ao apelo da Universidade de Coimbra para que, no âmbito da sua semana Cultural, as Faculdades e outros organismos que nela se acolhem glosem o tema da “Imaginação”, responde o Instituto de Estudos Alemães com o colóquio Imaginação do mesmo: a diferença na repetição. No texto que enquadra o conjunto de contributos que hoje aqui se apresentam, se afirma, a dado passo, que “Há inovação e transformação não na impossível invenção de uma origem, mas sim na capacidade de articulação produtiva”. Pode esta ser uma boa síntese daquilo que a moderna descendência da espécie homo leva a cabo, enquanto homo sapiens (sapiens) e, portanto, homo loquens, no exercício da faculdade que é, a um tempo, o seu mais poderoso instrumento de cognição e o mais eficaz e económico veículo de comunicação – competição e cooperação são, recordo, os principais pilares em que assenta o processo da sua sobrevivência enquanto espécie.
Criadas as línguas, de que espaço de manobra dispõe o “homem que fala”, que é também um homo socialis, para as recriar, reinventar, adaptando-as às sempre renovadas coordenadas sociológicas em que se situa e de que ele próprio é o arquitecto?
Zarathustra in den Tropen : der Text als Spirale der Wiederholung in Nietzsche und Robert Müller
(2010)
Der Einfluss Nietzsches auf die Autoren des Fin-de-Siècle und des so genannten „Expressionistischen Jahrzehnts“ wird unumstritten von der Kritik akzeptiert. Jedoch beschränkt sich diese Einschätzung auch in den jüngsten Abhandlungen (Ester 2001) aufgrund von Thesen aus den 70er Jahren (zum Beispiel die des kanonischen Bandes von Martens von 1971) auf den Parameter des Vitalismus. Die Untersuchungen zur Rezeption Nietzsches in dieser Zeit konzentrieren sich größtenteils auf 'Also sprach Zarathustra' und ignorieren oder unterschätzen somit andere philosophische Texte des Autors. Auf jeden Fall kann man den deutlichen Einfluss Nietzsches auf den deutschsprachigen Modernismus weder auf den 'Zarathustra' und sein vorherrschendes Thema den Übermenschen, noch auf die metaphysische Dimension seiner Philosophie beschränken, ein Umstand, den auch das fiktionale und essayistische Werk des Wiener Autors Robert Müller (1887-1924) musterhaft unter Beweis stellt. 'Der Mythos der Reise. Urkunden eines deutschen Ingenieurs' (1915) ist ein Beispiel für einen essayistischen Roman, der nicht nur direkt von der Philosophie Nietzsches, sondern auch gerade von der jeweiligen begrifflichen und diskursiven Methodologie sowie dem jeweiligen textuellen Konzept profitiert. Es handelt sich damit um Faktoren, die auch unter dem Zeichen des Essayismus gesehen werden müssen.
Navigare necesse est : de Magalhães a Vespúcio ; três navegadores reinventados por Stefan Zweig
(2010)
"Navigare necesse est" [...] Ao longo dos tempos, esta expressão de ousadia conservou-se no discurso literário da cultura ocidental. No século XX, serviram-se dela, por exemplo, dois autores indelevelmente inscritos na memória cultural da língua portuguesa: o poeta Fernando Pessoa, como vimos, e ainda o cantautor Caetano Veloso. […] Nesta linha de apropriação se situa também o escritor austríaco Stefan Zweig quando, em 1937, intitula “Navigare necesse est” o capítulo introdutório da biografia “Magellan. Der Mann und seine Tat”. Ao contrário dos autores de língua portuguesa acima mencionados, Zweig adopta apenas o primeiro segmento do axioma, pois no fenómeno de intertextualidade [...]. Zweig aproveita a expressão no enquadramento semântico original – as navegações –, para a aplicar à linhagem de bravos homens do mar e de eruditos cosmógrafos que tornaram possível a era dos Descobrimentos. Nesse capítulo inicial da narração biográfica, a voz autoral traça uma panorâmica da primeira fase das Descobertas, mostrando como o móbil económico, que desencadeou todo o processo, acabou por trazer à Humanidade ganhos de outra natureza. Assim, os Descobrimentos não terão permitido apenas chegar à Índia e às tão desejadas especiarias: a demanda corajosa e continuada ter-se-á justificado principalmente por desafiar os mitos do oceano, afastar os medos do mar e alargar a nossa dimensão do mundo.
Passaram já mais de vinte anos sobre a apresentação no Centro Pompidou, em Paris, da exposição 'Vienne, 1880-1938, naissance d'un siècle'. Tratou-se, como alguns se recordarão, de um acontecimento de grande repercussão em toda a Europa. A definitiva consolidação do mito cultural da “Viena de 1900” está estreitamente associada a este acontecimento. A ressonância do evento, contudo, não poderá ser cabalmente entendida se não se tiver presente que, em meados dos anos oitenta a controvérsia sobre o pós-modernismo estava no auge. A verdade é que o comissário da exposição, Jean Clair, programou-a expressamente como uma espécie de manifesto pós-moderno, à luz de uma interpretação da modernidade vienense como um sítio arqueológico maior da pós-modernidade. […] É evidente que esta afirmação distintamente pós-histórica e pós-filosófica se baseia numa imagem da 'Wiener Moderne' como lugar de uma critica implícita à narrativa do progresso como perpétua inovação. A actualidade da Viena de 1900 reside, aos olhos de Jean Clair, justamente, numa específica noção de temporalidade que é hostil à ideia do novo como ruptura irreversível […]. É este, de facto, o núcleo da “hipótese vienense”, para usar a expressão proposta na época por Paolo Portoghesi, um dos mais influentes teóricos da arquitectura pós-modernista nos anos oitenta (Portoghesi 1984). Não vou ocupar-me aqui dos equívocos, por vezes grotescos, gerados em torno dessa hipótese no âmbito da teoria do pós-modernismo. Vou, simplesmente, concentrar-me no conceito de repetição e nas suas consequências para um entendimento mais lato do paradigma modernista, já que, na verdade, a “hipótese vienense”, as lições literalmente excêntricas da 'Wiener Moderne', representam, no fundamental, a percepção do carácter aberto e plural das respostas modernistas à condição moderna.
O romance em apreço poderá […] ser compreendido com o resultado desta duplicidade identitária e interpretado como uma metáfora da amnésia social generalizada que o autor observa na sociedade onde actua. Neste texto é sua intenção criticar a ausência de altruísmo, a indiferença, o preconceito e as generalizações a que muitas das personagens do romance são sujeitas. Enquanto algumas destas figuras, especialmente as que pertencem a minorias negligenciadas, aspiram à sua integridade pessoal e ao reconhecimento social, as restantes figuras personificam a incapacidade de relembrar da qual a sociedade civil genericamente parece sofrer. Na visão de Rabinovici, devido a este esquecimento colectivo a sociedade incorre nos mesmos erros do passado, do passado nacional-socialista, na medida em que, adoptando o papel de mera espectadora, continua passivamente a ignorar a necessidade de legitimação e de aceitação de um conjunto de indivíduos.
Die Eigenheit der letzteren Welle von literarischen Texten mit dem Hintergrund der Flucht und Vertreibung – unter anderen Günter Grass 'Im Krebsgang' (2002), Tanja Dückers 'Himmelskörper' (2003), Christoph Heins 'Landnahme' (2004) – liegt nicht in der Thematik per se (seit dem Nachkrieg wurde die Flucht und Vertreibung von Schriftstellern aus verschiedenen ideologischen Hintergründen thematisiert und fiktionalisiert), sondern in der Problematik der transgenerationellen Übertragung dieser traumatischen Erfahrungen. Schwerpunkt dieser Werke ist nicht darzustellen, wie die Kriegsgeneration den Zusammenbruch des Dritten Reichs erlebte, sondern die Überlieferung und die Verarbeitung dieser Ereignisse im Familienkreis, d.h. die Vermittlung der Wirkung solcher Erlebnisse auf die folgenden Generationen (Kinder, Enkelkinder). […] Viele dieser Werke weisen auf die Massenvergewaltigungen (oder zumindest auf die Panik davor) im Kontext von Flucht und Vertreibung hin, widmen aber der sexuellen Gewalt keine besondere Aufmerksamkeit im Text. Ausnahmen sind Hans-Ulrich Treichels (BRD, 1952) 'Der Verlorene' (1998) und Reinhard Jirgls (DDR, 1953) 'Die Unvollendeten' (2003). Für die Mütter der Erzähler dieser Texte waren die deutsche Niederlage und der Heimatverlust eng mit sexuellem Missbrauch verbunden. Als unbewältigte Schatten auf dem Familienleben müssen solche Erfahrungen bei der Analyse der intrafamiliären und intergenerationellen Beziehungen unbedingt berücksichtigt werden. Ziel dieses Referats ist es, zu untersuchen, welche Strategien beide Texte für die Repräsentation der Vergewaltigung bevorzugen, welche Rolle die sexuelle Gewalt als Chiffre der deutschen Niederlage in ihnen spielt, und inwieweit diese traumatische Erfahrung als Trope für die Nachkriegsrealitäten der beiden deutschen Staaten und der Integration der Vertriebenen fungiert.
This paper is part of a broader research project, which involves the Brazilian Portuguese translation, with notes and commentaries, of the 'Gesammelte Schriften über Musik und Musiker' (On Music and Musicians) by the German composer Robert Schumann (1810-1856). In such a study, located on the border of language, literature, and music, methodology gains a double significance: firstly, the nature and extent of the incursions through fields which are autonomous in themselves, but connected in the document to be translated, not only requires unity, but also reveals the gaps the translator is exposed to; and secondly, the methodology not only defines the scientific premises of the work, but also brings to light its ethical dimension. With this in mind I have chosen a methodological approach which works in two complementary ways, with the act of translating always being the point of departure and arrival: (1) from the experience of translation and the identification of gaps and problems, followed by the registration of the first notes and comments, through systematic research in connected areas; and (2) the opposite way: from the research in related fields back to the translation and to the editing of notes and comments. Each step of the process is carefully registered, as well as the different versions of the translated text. Allowing methodology to take precedence is therefore an act of self-exposure and defense: on the one hand, it is a means of assuring visibility for the translator; on the other hand, it secures concrete parameters for judgment both by readers and critics.
Vor mehr als zehn Jahren beschrieb ich bereits Theorie und Praxis des Deutschunterrichts an der Universidade Aberta, ein Studienbereich, der 1996 auf Initiative von Maria Laura Bettencourt Pires (Direktorin des Bereichs der Fernstudien do Ensino a Distância) entstanden war. Doch sollte die Umsetzung des Regelwerks von Bologna an unserer Institution noch bis 2007 dauern. Portugal hatte diesen Vorgaben, die einen gemeinsamen europäischen Hochschulraum ermöglichen sollten, bereits 1999 zugestimmt. Sie werden im geänderten Hochschulrahmengesetz von 2005 berücksichtigt. Ihre Einführung an der Universidade Aberta fiel sowohl mit der Methode des E-learnings als auch mit der Einbettung der Germanistik in ein neues Kurssystem zusammen, die u.a. die Semestralisierung der Lehrfächer zur Vorraussetzung hatte. Diese Semestralisierung bedeutete die Verdoppelung der zu unterrichtenden Fächer, sowie ein Vielfaches der bisherigen Anzahl der Examen. Außerdem galt es zu berücksichtigen, dass der Lehrstoff der Literaturfächer (franz. und dt. Literatur) bis zu den Anfängen der jeweiligen nationalen Literaturen ausgedehnt werden sollte. Bis zu jenem Zeitpunkt wurde an der Universidade Aberta das Fach ‚Neuere deutsche Literaturgeschichte vom 18. Jh. (Aufklärung) bis zur Gegenwartsliteratur‘ gelehrt. Für unsere Germanistikabteilung war ich in einer Arbeitsgruppe dafür zuständig, Vorschläge zur Umstrukturierung (inkl. Semestralisierung) und Anpassung der ‚Línguas e Literaturas Modernas‘ (LLM) an das Regelwerk von Bologna auszuarbeiten.