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O objetivo deste ensaio é argumentar em favor da frankfurtianidade de Jürgen Habermas, isto é, estudar os pontos de convergência de sua obra em relação ao projeto teórico do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt e, a partir dessa ênfase, apontar novas possibilidades de pesquisa no campo de Estudos Organizacionais (EO). Para isso, refletimos sobre aspectos teóricos essenciais do ensaio “Teoria tradicional e teoria crítica” (HORKHEIMER, 1975) e elaboramos uma crítica aos intérpretes que utilizam a cronologia geracional como principal critério para a compreensão de diferenças no movimento intelectual da Escola de Frankfurt. Metodologicamente, inspiramo-nos na proposta de crítica à interpretação por meio da hermenêutica filosófica (RICOEUR, 1990) e na natureza propositiva de interpretação de um ensaio teórico (MENEGHETTI, 2011). Para sustentar a proposição expressa de forma provocativa no título deste artigo, dialogamos com comentadores (BOTTOMORE, 2001; FREITAG, 2004; NOBRE, 2004; MELO, 2013), a fim de propor uma caracterização não geracional de seus membros e a proximidade de Habermas em relação ao marco fundador da Teoria Crítica. Nesse sentido, acreditamos que (a) a releitura da intenção emancipadora (HABERMAS, 2002), (b) a desconstrução da isenção do conhecimento científico (HABERMAS, 1987) e (c) a incorporação da filosofia da linguagem à crítica social frankfurtiana (HABERMAS, 2012) são contribuições importantes de sua obra à Teoria Crítica de Frankfurt. Como proposição para a área de EO, em nossas considerações finais argumentamos que a recolocação do autor no posto de genuíno teórico crítico da Escola de Frankfurt pode constituir uma nova agenda de pesquisa para o campo. Acreditamos que nosso esforço pode auxiliar pesquisadores da área de EO a compreender a obra de Habermas a partir de uma via que os afasta da armadilha de considerá-lo um teórico não crítico e/ou utópico. Sob esse enfoque, torna-se evidente sua produção intelectual politicamente engajada nos problemas sociais contemporâneos – dimensão que vem sendo negligenciada pelos pesquisadores do campo de EO no Brasil.
O objetivo deste artigo é analisar os elementos centrais da crítica realizada por Axel Honneth ao pensamento de Michel Foucault, em Crítica do Poder, articulando-a com sua análise da obra do chamado "círculo interno" da Escola de Frankfurt, principalmente Adorno e Horkheimer. Dessa maneira, entende-se que Honneth opera uma aproximação do pensamento foucaultiano à tradição crítica frankfurtiana, com ênfase em deficiências comuns que apontam para uma filiação entre os autores e, ao mesmo tempo, para sua insuficiência na análise da sociedade contemporânea. Tal leitura, contudo, em que pese sua inovação em pôr lado a lado Foucault e Habermas enquanto desenvolvimentos rivais da Teoria Crítica, é limitada tanto cronologicamente, por não levar em consideração a reorientação realizada por Foucault, a partir de 1978, quanto por identificar problematicamente as noções de poder e dominação. Essa limitação não inviabiliza, entretanto, manter o gesto de convergência entre o pensamento foucaultiano e a Escola de Frankfurt, pensando-o através de uma via positiva, que não se restrinja às limitações das suas ferramentas críticas, mas que, ao contrário, ao focalizar a radicalidade de tal crítica, torne possível destacar a sua atualidade.
El objetivo principal de este trabajo es replantear la posibilidad de realizar una síntesis entre la fenomenología de Husserl y la teoría crítica de la Escuela de Frankfurt. Para ello realizaremos una revisión crítica de los textos del primer Marcuse (1928-1933), cuyo proyecto filosófico consistió en formular una síntesis entre la ontología fenomenológica de Heidegger y el materialismo dialéctico de Marx. La tesis que defenderemos aquí es que este proyecto sigue siendo vigente, pero tomaremos como referente la fenomenología de Husserl, desde la que interpretaremos los textos de Marcuse, y no la ontología existencial de Heidegger.
According to the theory of language of the young Benjamin, the primary task of language isn't the communication of contents, but to express itself as a "spiritual essence" in which also men take part. That conception according to which language would be a medium to signification of something outside it leads to a necessary decrease of its original strength and is thus denominated by Benjamin bürgerlich. The names of human language are remainders of an archaic state, in which things weren't yet mute and had their own language. Benjamin suggests also that all the arts remind the original language of things, as they make objects "speak" in form of sounds, colors, shapes etc. That relationship between arts as reminders of the "language of things" and the possible reconciliation of mankind with itself and with nature has been developed by Theodor Adorno in several of his writings, specially in the Aesthetic Theory, where the artwork is ultimately conceived as a construct pervaded by "language" in the widest meaning - not in the "bourgeois" sense.
Percepção como interpretação
(2009)
Este artigo enfoca a apropriação que Horkheimer e Adorno fazem da doutrina kantiana do esquematismo no sentido de apontar para o procedimento – característico da indústria cultural – de usurpar de seus consumidores a capacidade de “esquematizar” (referir intuições a conceitos) por si próprios. Considerando-se que os autores não dão outras indicações sobre como se dá esse processo em relação aos meios de massa, o texto procura explicar como a própria percepção em geral é atingida pela “usurpação do esquematismo” a partir de colocações do capítulo da Dialética do esclarecimento sobre o antisemitismo. Essas colocações são complementadas – e também comparadas – com as de Hans Lenk no seu livro O pensamento e o seu conteúdo.
Historiadora do cinema, Miriam Hansen examinou e sistematizou as contribuições de Siegfried Kracauer, Walter Benjamin e Theodor Adorno para a teorização do cinema. Nesta pesquisa bibliográfica, buscamos sintetizar e apresentar aos leitores de língua portuguesa o desenvolvimento de sua investigação sobre o tema. Mostramos como Hansen foi capaz de identificar as principais diferenças entre os teóricos frankfurtianos, bem como evidenciar que eles, em comum, pensaram este fenômeno cultural contemporâneo em relação às condições sociais e econômicas de produção. Em suas reflexões, o cinema aparece como expressão da sociedade urbano-industrial, como um elemento sintomático da cultura de massa.
Este artigo tem por objetivo analisar comparativamente as semelhanças contidas nas críticas à democracia liberal presentes em alguns trabalhos selecionados de Carl Schmitt (1888-1985) e Robert Kurz (1943-2012). A despeito da estreita associação do primeiro autor com o regime nazista após 1933 e do segundo ser normalmente caracterizado como um pensador marxista (embora bastante crítico ao marxismo “ortodoxo”), são verificáveis inúmeras similitudes entre ambos quando se propõem a analisar as características do liberalismo parlamentar das democracias do século XX. Uma hipótese que pode explicar tais semelhanças seria a influência exercida por Schmitt sobre diversos teóricos da escola de Frankfurt, com os quais Kurz frequentemente dialoga em seus escritos e que foram inspiradores de algumas de suas reflexões – em especial, Walter Benjamin, Theodor Adorno e Max Horkheimer, embora Schmitt também tenha influenciado Franz Neumann, Otto Kirchheimer, Karl Korsch e Herbert Marcuse. Outra via de interpretação abordada aqui se refere à possibilidade de Schmitt ter encontrado, em suas teorias sobre o Estado e sobre o direito, os limites epistemológicos do liberalismo moderno, o que constitui o principal objeto de pesquisa de Kurz e foi tema recorrente nos escritos dos teóricos de Frankfurt.