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Por ocasião do bicentenário da viagem dos naturalistas alemães Spix e Martius pelo Brasil (1817-1820), um grupo de pesquisadores ligados ao Instituto Martius Staden (São Paulo) refez em março de 2017 um trecho daquela expedição: de Ouro Preto a Diamantina. O principal objetivo foi estudar as continuidades e as mudanças ocorridas ao longo desses 200 anos. Estes foram os lugares visitados: 1) Ouro Preto, a antiga Vila Rica, capital da província de Minas Gerais; 2) no distrito de Mariana, as comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu, destruídas pelo desastre ambiental ocorrido em 2015; 3) o Parque Nacional e o Santuário da Serra do Caraça, fundado em 1774; 4) as cidades de Sabará e do Serro, antiga Vila do Príncipe, e o Pico do Itambé (2052 metros), na Serra do Espinhaço, a divisa entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado; e 5) a cidade de Diamantina, antigo Arraial de Tijuco, e seus arredores, incluindo um local de garimpagem.
Este artigo discute o sentido pretendido por Adorno com a expressão “derradeira chance do pensamento”. Para tal, busca-se uma aproximação entre alguns elementos presentes nas seções 1 e 41 de Minima moralia, em especial: o intelectual independente e o filósofo-escritor como porta-vozes da crítica à falta de originalidade na produção filosófica.
Nosso objetivo neste trabalho é tentar esclarecer o mal-estar causado por algumas leituras que muitas vezes despacham a influência e a presença constante de Hegel na obra de Adorno de forma muito breve e fácil, seja a partir da perspectiva antissistêmica da filosofia adorniana, ou então, desde a perspectiva negativa que a dialética assume em seu pensamento. Nesse sentido, pretendemos expor alguns pontos fundamentais da filosofia hegeliana, em relação aos quais Adorno se coloca claramente como herdeiro. Pretendemos mostrar que o filósofo de Frankfurt pensa não somente sobre estes pontos, mas também a partir deles, i.e., superando-os.
O artigo analisa a crítica social de Adorno, apontando os laços entre formação, sujeito e condições sociais e os efeitos para a educação (Bildung). A despeito da tradição neo-humanista e idealista e das certezas emancipatórias, a formação mostra sua face ilusória. É justamente em relação às questões educativas que o pensamento crítico de Adorno mais revela sua atualidade e potência para mostrar os paradoxos da própria educação. De tal crítica - apesar do paradoxo - decorrem determinadas exigências expressas numa dimensão ético-política e numa dimensão estética para a experiência formativa, cuja potência pode romper com o caráter meramente adaptativo da educação.
Este artigo se propõe estabelecer um diálogo com o ensaio Teoria da Semiformação, de Theodor Adorno, escrito em 1959, no contexto do capitalismo do bem-estar social. O objetivo é ressaltar sua atualidade na abordagem da crise da formação cultural contemporânea, em que prevalece a forma de capitalismo neoliberal e, ao mesmo tempo, detectar novas nuances constitutivas da referida teoria nesse momento histórico. Nessa trajetória, o texto percorrerá os seguintes passos: a Teoria da Semiformação como um diagnóstico da crise da formação cultural no final da década de 1950; as formas de como a ontologia da semiformação se constitui em tempos de neoliberalismo; as novas roupagens com que essa crise cultural vai se instalando progressivamente nas salas de aulas; e a necessidade de se lhe contrapor novas manifestações de resistência. O artigo buscou apoio teórico em Dardot e Laval (2016) para captar as especificidades do neoliberalismo contemporâneo.
Eu busco neste artigo mostrar alguns aspectos relativos a diferentes pesquisas e reflexões que empreendi em anos recentes sobre o conceito de indústria cultural. A questão central é o pensamento de Theodor W. Adorno com especial atenção para a atualidade de sua dialética negativa. Minha intervenção acerca da atualidade do conceito de indústria cultural possui três passos argumentativos: o entrelaçamento entre racionalidade e dominação como a base de uma teoria da sociedade em Adorno; algumas mudanças no capitalismo contemporâneo e suas implicações para um conceito de indústria cultural no século XXI e; a posição da indústria cultural no contexto da Sociologia brasileira. O objetivo central do artigo, produzido na forma de ensaio, é enfatizar a atualidade da teoria crítica da sociedade de Theodor Adorno mediante argumentos específicos ao campo da Sociologia.
Adorno pensou a filosofia moral em diversos momentos de sua carreira filosófica, notadamente em Minima Moralia (1951), Dialética Negativa (1966) e em seu curso publicado postumamente Probleme der Moralphilosophie (1996). Uma avaliação conjunta desses textos permite indicar a centralidade do que Adorno chamou de “dialética da moral” – entre impulso somático e racionalidade – na constituição da experiência do prático. Além disso, as reflexões sobre a moral são um momento privilegiado das análises metafilosóficas de Adorno, que identificam em boa parte da tradição filosófica ocidental sobre a moral a presença da dominação da natureza interna – processo que caberia à dialética materialista da moral criticar e ajudar a transformar.
Neste artigo, que é originalmente um discurso de posse no Instituto Otto Suhr na Universidade Livre de Berlin, Axel Honneth esboça o programa de uma teoria intersubjetiva do reconhecimento, utilizando esta última categoria como o núcleo conceitual de uma Teoria Crítica da sociedade na qual a experiência pré-cientifica de desrespeito às expectativas sociais se conecta à formação de demandas emancipatórias.
Para Vilém Flusser as imagens técnicas são como "aspiradores de pó" que sugam toda a história: elas aceleram o tempo e transformam o todo em imagens congeladas. Trata-se para ele de uma imagem que contém a realização de uma redenção judaico-cristã. As imagens técnicas permitem a superação do que ele via como a clausura do mundo histórico, marcado pela textolatria. Elas permitem remontar ludicamente o universo a partir de sua decomposição imagética, como se as imagens (constituídas de "calculi", pixels) fossem pedras de lego. O trabalho apresenta essa escatologia mística judaica de Flusser sobre as imagens mágicas redentoras, levando em conta também o seu credo (que ele também considerava judaico), segundo o qual, ao invés de pensarmos na imortalidade das almas deveríamos apostar que "sobreviveremos na memória dos outros". Que memória seria essa e o que significaria sobreviver em um mundo pós-histórico, esvaziado de sua visão temporal, são algumas das questões que o texto desenvolve. Comparando com algumas ideias e conceitos de Walter Benjamin, o texto procura mostrar como Flusser procurou responder à demanda benjaminiana segundo a qual o surgimento de novas técnicas impõe-nos repensar o que a morte e o amor seriam hoje em dia.
Contestando a suposta superação do mito na modernidade e a validade da dicotomia entre mito e logos, este artigo propõe aproximações entre as categorias do pensamento mítico enumeradas por Ernst Cassirer e a obra de Walter Benjamin, aqui representada especialmente pelos textos de juventude do autor que compõem sua filosofia da linguagem. De maneira mais pontual, recorrer-se-á, ademais, a outros ensaios e livros de sua obra, intencionando sugerir a abundância de material do pensador como um campo profícuo para o estudo do mito.
As obras visuais de Carlfriedrich Claus e de Ana Hatherly se localizam fora daquilo que se convencionou chamar de poesia. Uma poesia sem palavras resta como impossibilidade para os defensores da prática logocêntrica da escrita. Os autores aqui estudados suscitam, portanto, uma leitura desviante da atividade poética contemporânea. Eles defendem a hipótese de que a poesia contemporânea tende à iconicidade e mesmo da completa ilegibilidade como modo de apreensão estética de um mundo caótico. Porque não se constituem e nem podem ser lidos a partir das mesmas regras da lírica tradicional, os textos deliberadamente obliterados desses poetas resultam na transformação inequívoca dos métodos de criação e leitura, não obstante a resistência de certos ramos da crítica
Este artigo elucida, em primeiro lugar, os vários significados da noção francesa de dispositif e contrasta-a com os usos de "aparelho" ("appareil"), por um lado, e "reunião" ("agencement"), por outro. A segunda parte apresenta o uso distintivo de Foucault do conceito de dispositivo. O argumento baseia-se na tese de que a noção de dispositivo de Foucault está firmemente ancorada em uma analítica do governo, na medida em que se concentra na direção e regulação de forças agenciais e processos vitais. Na última parte, proponho combinar uma analítica do governo, seguindo Foucault, com insights dos Estudos de Ciência e Tecnologia (STS). Argumento que essa síntese teórica entre STS e uma analítica do governo ajuda a corrigir os problemas de muitas análises da sociologia política e da teoria social e política ao enfrentar as transformações e mudanças nas sociedades contemporâneas.
Die Zeitschrift Pandaemonium Germanicum erscheint zweimal jährlich und versteht sich als Forum für die wissenschaftliche Diskussion in den verschiedenen Bereichen der internationalen Germanistik, nämlich der Literatur- und Übersetzungswissenschaft, Linguistik, DaF und Kulturstudien. Die Zeitschrift wird von der deutschen Abteilung der FFLCH-USP (Universität São Paulo) seit 1997 herausgegeben und will zur Verbreitung unveröffentlichter Forschungen von GermanistInnen aus Brasilien und anderen Ländern, sowie zur Förderung des Dialogs zwischen der Germanistik und anderen Wissensbereichen beitragen.
Die Zeitschrift Pandaemonium Germanicum erscheint zweimal jährlich und versteht sich als Forum für die wissenschaftliche Diskussion in den verschiedenen Bereichen der internationalen Germanistik, nämlich der Literatur- und Übersetzungswissenschaft, Linguistik, DaF und Kulturstudien. Die Zeitschrift wird von der deutschen Abteilung der FFLCH-USP (Universität São Paulo) seit 1997 herausgegeben und will zur Verbreitung unveröffentlichter Forschungen von GermanistInnen aus Brasilien und anderen Ländern, sowie zur Förderung des Dialogs zwischen der Germanistik und anderen Wissensbereichen beitragen.
Die Zeitschrift Pandaemonium Germanicum erscheint zweimal jährlich und versteht sich als Forum für die wissenschaftliche Diskussion in den verschiedenen Bereichen der internationalen Germanistik, nämlich der Literatur- und Übersetzungswissenschaft, Linguistik, DaF und Kulturstudien. Die Zeitschrift wird von der deutschen Abteilung der FFLCH-USP (Universität São Paulo) seit 1997 herausgegeben und will zur Verbreitung unveröffentlichter Forschungen von GermanistInnen aus Brasilien und anderen Ländern, sowie zur Förderung des Dialogs zwischen der Germanistik und anderen Wissensbereichen beitragen.
Este artigo aborda parte dos resultados de uma pesquisa mais abrangente que objetivou compreender (inter)relações que se estabelecem entre práticas de leitura e escrita em alemão e em português de crianças do Ensino Fundamental e o contexto de língua de herança em que estão inseridas. Quanto à dimensão teórica, o estudo filia-se à área da Linguística Aplicada em diálogo com a Educação em contextos interculturais. A pesquisa, de base qualitativo-interpretativista, teve como locus uma escola municipal, em zona rural do município de Blumenau, Santa Catarina. Quanto aos procedimentos metodológicos, foram utilizadas duas propostas de produção de narrativas escritas, uma em português e outra em alemão. Os resultados sugerem que (i) as crianças têm domínio restrito de uma estrutura narrativa e aplicam-na parcialmente nas produções em ambas as línguas; (ii) o vocabulário e as estruturas gramaticais são característicos das práticas linguageiras cotidianas; iii) os estudantes desconhecem ou não internalizaram regras ortográficas, especialmente da língua alemã. A partir dos resultados da pesquisa afirma-se a importância de se garantir, na educação formal, o aprendizado da língua de herança, ao lado do português, em contextos bi/multilíngues similares.
Os materiais audiovisuais, como filmes e seriados, proporcionam ao professor a oportunidade de apontar exemplos de diferentes tipos de falantes da língua-alvo: tanto falantes nativos (comumente tomados como modelo) quanto interculturais (HOUSE 2007), sendo estes falantes não nativos que se apropriaram adequadamente da língua estrangeira para a comunicação. Apresentar falantes interculturais ao aluno é importante para que ele possa romper com a concepção de falante nativo ideal como modelo de aprendizagem (RAJAGOPALAN 2012); por essa razão, é imprescindível que esse tipo de personagem seja representado adequadamente em seriados e filmes. Tendo isso em vista, pretendemos analisar, neste trabalho, os seriados Erste Wege in Deutschland e Jojo sucht das Glück, no que se refere a suas protagonistas (ambas, supostamente, falantes interculturais). Foram analisados, respectivamente, dois e cinco episódios das séries, buscando refletir sobre as protagonistas com base na caracterização de falante intercultural nos estudos da área (BYRAM, GRIBKOVA E STARKEY 2002; HOUSE 2007; OLIVEIRA 2012). Os resultados apontam para uma representação artificial dessas personagens, pois elas reproduzem, de forma geral, características típicas de um falante idealizado, o qual gera imagens estereotipadas da língua-alvo.
O presente artigo tem como objetivo analisar a construção de imagens discursivas de aprendizes em sumários e em atividades contidas em livros didáticos de Alemão como Língua Estrangeira (ALE), e de que modo essas construções antecipam que tipo de inserção esse aprendiz teria de/poderia ocupar nessa comunidade de produção/circulação de textos na língua alvo. Nesse sentido, o quadro teórico se constrói a partir da articulação entre a perspectiva polifônica da linguagem (BAKHTIN 2011), a noção de práticas discursivas (FOUCAULT 2004; MAINGUENEAU 2008) e o disciplinamento de saberes (FOUCAULT 2002), considerando a relevância de tal articulação para uma crítica à Linguística Aplicada a partir de Rocha e Daher (2015). Por meio das análises de livros didáticos de ALE, observamos a construção de imagens de aprendiz que parece retirá-lo das situações de interação, considerando-o mero espectador, que se ocupará de repetir sentenças e estruturas determinadas por uma simulação artificial de situações comunicativas, mais do que permitir a ele espaços de interação e de inserção nessas situações. Além disso, os materiais comunicam uma imagem de aprendiz-consumidor-turista, interessado em aprender a língua para fazer viagens, realidade essa distante da brasileira.
O cotidiano nas salas de aula de ALE nos contextos universitário e institucional extracurricular - como é o caso do projeto PALEP - Projeto Aulas de Línguas em Espaços Públicos (UERJ/UFRJ) – tem imposto desafios de várias ordens a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Consideramos como pressuposto da pesquisa a ideia de que professores e gestores da ensino-aprendizagem estão diante de salas de aula de natureza "multinível" e que o reconhecimento dessa natureza tem implicações político-pedagógicas que terão reflexo no papel de alunos e professores, no desenvolvimento do material didático e também nos objetivos do processo de aprendizagem. O objetivo deste artigo é, portanto, discutir aspectos teóricos da atividade de ensino-aprendizagem como uma atividade complexa e identificar três dimensões do reconhecimento da natureza "multinível" das salas de aula de ALE: a dimensão social, que engloba questões relacionadas às possibilidades de socialização e cooperação levando em conta a multiplicidade de níveis em sala de aula; a dimensão pedagógica, que impõe transformações na racionalidade didática em sala; e, por fim, a dimensão política, que nos permite compreender melhor processos de produção do fracasso e de evasão em cursos de ALE.
Este artigo se propõe a discutir algumas questões de interesse tradutológico referentes às três traduções brasileiras (1950; 1977; 2017) da obra Der Witz und seine Beziehung zum Unbewussten, de Sigmund Freud - cuja primeira publicação data de 1905. Parte-se de argumentos expostos em um debate entre o poeta e tradutor brasileiro Haroldo de Campos e o tradutor francês de Freud, Jean Laplanche, acerca das possibilidades de traduzir os chistes citados por Freud no referido livro, para identificar as diferentes estratégias adotadas pelos tradutores brasileiros. Longe de apresentar uma análise completa das diversas versões ou um cotejo exaustivo entre o original e as três (re)traduções, o que este trabalho visa é defender que elas constituem aproximações diferentes – porém todas válidas e potencialmente relevantes para o leitor-alvo - em relação a determinados aspectos da obra "original".
Este trabalho analisa a língua alemã como marcador de identidade étnica teuto-brasileira na cidade de Pomerode (SC) entre a década de 1980 e os dias atuais através de histórias de vida, isto é, de relatos que os teuto-brasileiros fizeram de sua vida pessoal e social. Para essa compreensão investiga-se os sentidos atribuídos pelos depoentes à lingua no que diz respeito ao seu aspecto objetivo e subjetivo. A pesquisa encontra-se apoiada na teoria da etnicidade relacional e em estudos sobre identidade étnico-cultural e na metodologia de História Oral. A língua alemã em Pomerode é, de um lado, vivenciada individualmente e, de outro lado, compartilhada no coletivo étnico e está relacionada à produção de sentidos que cada depoente vivenciou na família e na comunidade étnica, o que caracteriza permanência e transformação do papel dessa língua e uma negociação de sentidos individuais e coletivos. A redefinição do papel da língua alemã em Pomerode está associada, por um lado, ao próprio grupo étnico, ou seja, a autocompreensão de sua identidade étnica e, por outro lado, à mercantilização da identidade, ou seja, à instrumentalização da língua.
Os seriados televisivos vêm se destacando como opção de lazer bastante recorrente entre pessoas de diferentes faixas etárias, em especial, dentre estudantes. Diante disso, este trabalho tem como objetivo abordar as vantagens do uso de tal material para o ensino de aspectos linguísticos, político-sociais, ideológicos e socioculturais de língua alemã. Trata-se do recorte de uma pesquisa que se encontra ainda em desenvolvimento, no qual destacaremos o seriado Deutschland 83. Ressaltaremos a importância do uso de materiais autênticos para o ensino de línguas e a necessidade do ensino com foco em aspectos da cultura estrangeira. Concluímos que o seriado Deutschland 83 é um material com potencial a ser explorado, permitindo que o aprendiz se aproxime da cultura e língua alemã, ao mesmo tempo em que proporciona ao aluno material para gerar uma reflexão sobre sua própria realidade.
Em 2017, completaram-se os trinta anos do lançamento de Patmos e outros poemas de Hölderlin, primeiro livro de poesia traduzida assinado por Marco Lucchesi. O então jovem poeta percorre uma amostra da lírica de Friedrich Hölderlin por meio da tradução, enquanto experimenta a própria poesia e nos remete à concepção benjaminiana de Erfahrung [experiência], que, como observa Jeanne-Marie Gagnebin, entre outros, "[...] vem do radical fahr-, usado ainda no antigo alemão no seu sentido literal de percorrer, de atravessar uma região durante uma viagem" (GAGNEBIN 1994: 66). Numa reflexão sobre os elementos que vão compondo uma poíesis diferenciada, verificamos que se desenvolve uma Erfahrung como "itinerário" para o futuro percurso de Lucchesi como poeta-tradutor. O presente trabalho propõe-se expor tal "itinerário" não com o intuito de rastrear e analisar exaustivamente as referências que se enfeixam para produzir uma rede algo caótica ou interpretar toda a poesia por vezes hermética que opera essa rede, mas de apontar como, a despeito da condição de criação indomável, numa obra espécie de colagem ou mosaico, Lucchesi lançava-se a uma tentativa de diálogo com a lírica alemã, como parte privilegiada da produção lírica ocidental de diferentes épocas.
Uma análise de O tambor de Günter Grass : recursos ficcionais para debater sua própria história
(2018)
Busca-se neste artigo analisar os recursos ficcionais utilizados pelo escritor Günter Grass em sua obra literária mais famosa, O tambor, na qual o autor recria, através do protagonista, Oskar Matzerath, sua própria história. Para tanto, o artigo coteja a obra de ficção O tambor com a autobiografia do autor alemão, juntamente com os percalços de sua trajetória pessoal.
Feridun Zaimoglu é um dos principais autores de língua alemã que introduzem a história e as experiências dos imigrantes e seus antepassados em seus textos literários. O romance Leyla, publicado em 2006, é um exemplo paradigmático disso, pois seu universo ficcional apresenta uma configuração temporal que antecede a chegada da protagonista turca à Alemanha. O presente artigo tem por objetivo discutir o romance em dois aspectos: a gênese da voz em espaços com desequilíbrio de poder e por outro lado a gênese da imagem do outro no universo pessoal dos personagens
Este trabalho tenciona fazer uma análise a respeito das contribuições de Axel Honneth no que concerne às suas contribuições para o debate sobre teorias da justiça no contexto atual. Neste sentido, pode ser elencada como principal a tentativa de alcançar princípios normativos pautados na horizontalidade, ou seja, na própria realidade social. Para alcançar êxito nesta empreitada reflexivo-filosófica, parte-se de suas obras A textura da justiça: sobre os limites do procedimentalismo contemporâneo e O direito da Liberdade, nos quais se tem a questão relacionada à liberdade, sendo esta tomada como o princípio de maior valor na contemporaneidade. Daí, a liberdade direcionada ao aspecto social ser especificamente expressa nas instituições, bem como seu vínculo estar intrinsecamente ligado às relações sociais, de mercado e também ao universo político. Ao se pressupor a existência de um vazio entre os princípios normativos pertencentes à justiça e a realidade social, conforme considera o autor, fomenta-se, a partir deste estudo, notar as potencialidades, bem como os limites desta reconstrução normativa, conforme proposição teórica de Honneth.
No bom caminho
(2018)
No segundo número do sétimo volume desta revista quase parece que as nossas preces expostas no editorial anterior foram ouvidas. Vieram da Alemanha 14 estudantes e investigadores consagrados para explorar seis ilhas de Cabo Verde e encontraram 18 novos registos de espécies terrestres relativamente às listadas por Arechavaleta et al. (2005). Estes novos registos incluem as primeiras observações de várias espécies para algumas dessas ilhas e ainda novas observações para Cabo Verde. Referimo-nos ao primeiro artigo intitulado “Adições ao inventário da biodiversidade terrestre de Cabo Verde”. Esperemos que este sirva de motivação a outros grupos de investigação para trazerem mais estudantes a este arquipélago em viagens de estudo.
Muito potencial
(2018)
No primeiro número do sétimo volume desta revista dedicamos a nossa atenção a dois grupos de organismos pouco estudados em Cabo Verde. Referimo-nos nomeadamente aos mamíferos, tanto terrestres como marinhos, e aos invertebrados terrestres. Este número consolida ainda a vitalidade desta revista com revisão por pares, com dois artigos originais e uma nota breve de autores de cinco nacionalidades diferentes, incluindo a cabo-verdiana.
O novo regulamento europeu de proteção de dados e o direito à saúde na Alemanha foram os temas debatidos na Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ), nesta quarta-feira (13/06), após as conferências proferidas pelas especialistas nesses assuntos e professoras da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, Indra Spiecker e Astrid Wallrabenstein. ...
Este artigo procurou refletir sobre alguns aspectos teóricos acerca da Teoria do Reconhecimento desenvolvida por Axel Honneth. Herdeiro da tradição teórica do pensamento crítico frankfurtiano – do qual se destacam pensadores como Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas –, Honneth propõe uma inovadora teoria normativa dos conflitos sociais. Como fio condutor de sua análise, emerge o argumento de que a evolução social está estruturada pelos conflitos morais dos sujeitos sociais, em busca do reconhecimento recíproco de suas identidades. Assim, ao desenvolver sua teoria, Honneth articula elementos da Teoria Crítica, da filosofia do jovem Hegel e da psicologia social de Mead. Este artigo tem justamente o ensejo de refletir sobre a teia conceitual sobre a qual Honneth fundamenta sua proposta teórica.
Em diálogo com Axel Honneth, analiso os desafios do reconhecimento nas relações íntimas à luz de pesquisas qualitativas realizadas com homens e mulheres heterossexuais de classes média e média alta sobre o amor romântico nos dias de hoje. As pesquisas revelaram as ambiguidades da concepção de amor que resultou do crescente processo de individualização e democratização das relações de gênero na intimidade. Ainda que o reconhecimento no amor seja importante para homens e mulheres, estas explicitaram, de forma mais enfática, o déficit de reconhecimento nas relações íntimas – não reconhecimento, reconhecimento limitado ou falso. Destaco as formas de sofrimento emocional feminino criadas com a institucionalização do campo sexual, que separou sexo de envolvimento afetivo, apontando os dilemas e contradições da liberdade sexual para as mulheres. Se, por um lado, a reconstrução normativa das relações íntimas de Honneth consegue elucidar as regras morais tacitamente postas nas interações amorosas e a importância do amor para uma teoria moral da “boa vida”, por outro, superestima as potencialidades do reconhecimento na esfera íntima. Além disso, pretendo mostrar as ambivalências do “novo feminismo” e as limitações dos estudos de gênero e sexualidade contemporâneos, com ênfase nas sexualidades “não normativas” e na desconstrução dos binarismos de gênero que, contraditoriamente, contribuem para eclipsar diferenças de gênero em torno do amor e da sexualidade e, com isso, acabam colaborando para tornar imperceptíveis sofrimentos femininos.
O objetivo deste artigo é discutir como os projetos intelectuais de Fraser e Honneth seguiram vias diversas após o debate que ambos publicaram em 2003 e como estas vias podem ser apropriadas pela teoria social feita no Brasil. Se no momento da discussão, tanto Fraser quanto Honneth pro- curaram demonstrar a maior adequação de suas respectivas teorias para a análise das lutas sociais e a possibilidade de uma apropriação deu seus modelos pelos movimentos sociais, de modo que o caráter político do debate fosse expresso na forma como movimentos sociais, remeteriam aos termos redistribuição e/ou reconhecimento (I); e, ao longo dos últimos, ambos mudaram o foco de suas análises para um entendimento do próprio sistema capitalista, chegando a concepções alteradas da dinâmica de conflitos sociais (II). Na medida em que este potencial analítico mediou sua recepção no Brasil, isso implica, afinal, novas formas de apropriação e diálogo com as ideias de Fraser e Honneth (III).
De acordo com parte da literatura, a teoria crítica de Adorno é um lamento sobre o fracasso da civilização moderna que é incapaz de dar conta de suas próprias condições de possibilidade. No presente artigo, questiono tal veredito, por meio da análise da questão de como a crítica pode ser feita e de quem seria o destinatário dela, em uma situação de quase completa dominação.
O presente escrito teve como objetivo analisar a necessidade da educação escolar para o desenvolvimento do ora vigente modo de produção capitalista industrial. Esta análise se baseia na investigação e exposição de Marx dos momentos constitutivos do capital por meio do modo de produção industrial de mercadorias. Em suma, procuramos demonstrar a partir dos escritos, principalmente, de Marx, Adorno e Marcuse que a demanda do modo de produção capitalista por uma massa de indivíduos oriundos da educação escolar não existe, pois a maioria de suas demandas radica nele mesmo, modo de produção, e é solucionada por ele mesmo em seu processo de constituição, não em um elemento externo e ideal, como é o caso da educação escolar.
A atualidade da crítica de Adorno para as pesquisas qualitativas com bases empíricas em educação
(2018)
Neste artigo, serão apresentados dados e argumentos sobre a atualidade da crítica de Theodor W. Adorno para as pesquisas qualitativas com bases empíricas em educação, com especial ênfase à hermenêutica objetiva, desenvolvida por Ulrich Oevermann e aplicada por Andreas Gruschka às pesquisas em educação. O tema será abordado da seguinte maneira: (a) serão apontados elementos históricos e teóricos do desenvolvimento de um método de pesquisa próprio pela Teoria Crítica; (b) serão apresentados elementos caracterizadores da hermenêutica objetiva; (c) para, por fim, apresentar algumas das contribuições de Gruschka na aplicabilidade do referido método às pesquisas educacionais na Alemanha, além de algumas experiências no Brasil a partir da referida abordagem de pesquisa.