830 Literaturen germanischer Sprachen; Deutsche Literatur
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RICOEUR (1988) nos diz que a conceituação do mal é um problema que atravessa séculos, devido a sua necessidade de coerência lógica. Já se discutiu sua origem, suas causas e seus efeitos, porém nunca se chegou a um termo que eliminasse a contradição em seu cerne. Neste espaço, as obras literárias de Heinrich von Kleist (1777-1811) apresentam uma temática que abarca uma quebra de limites entre os conceitos de maldade e bondade desenvolvidos durante a Aufklärung, evidenciando essa problemática. Essa quebra nos parece estar fortemente associada à relação existente entre o "eu" e o mundo caótico em que este está inserido, implicando em uma complexidade das fontes do mal moral que diluem as barreiras entre bem e mal e nos levam à contestação destes limites estanques. Procuraremos, portanto, neste texto, demonstrar em que consiste essa quebra de limites e como a composição de uma realidade pautada no engano integra o universo literário kleistiano, principalmente na obra Michael Kohlhaas.
The main character in Kleist's "Michael Kohlhaas" novella sacrifices himself in order to guarantee his survival. Nonetheless, as the reader will eventually notice, his fight produces no new reality at all, but only reaffirms a law that was already in force. A magic and natural law wich will send him on a journey of vengeance and justice. At the end of it, the man who laboured to ratify himself as an autonomous subject ends up serving as an object. But the result will be as well one of confirmation from the order wich gave birth to this subject. A strange order where contradictory elements (rule of law/lawlessness; violence/peace; justice/injustice; myth/history; heaven/hell; etc.) affirm themselves mutually.
Em "Der Fall Maurizius", romance de Jakob Wassermann de 1928, parcialmente ambientado em 1908, à época da República de Weimar, o autor critica o pragmatismo alemão, apoiado numa burocracia de estado que, mesmo depois do fim do Império, continua a exercer o poder de maneira absoluta. Wassermann revolta-se contra a má administração da justiça, e contra o caráter perverso daqueles que, tendo se apoderado do aparelho estatal, arrogam a si mesmos o papel de representantes dos melhores princípios do humanismo alemão. O pragmatismo, assim, apresenta-se como a falsificação daqueles valores que supostamente o legitimariam – notadamente, do princípio de Justiça, "Gerechtigkeit". A inocência de um adolescente, Etzel von Andergast, filho de um grande promotor, é o que traz à luz este estado de adulteração. Ao mesmo tempo, a figura de Waremme, descendente de judeus provenientes de regiões da Polônia ocupadas pela Prússia desde 1772, é uma figura sinistra, que rompeu com o legado ético de seus antepassados, pretendendo exercer um papel de destaque no movimento nacionalista alemão, para frustrar-se e ocupar posição marginal numa sociedade repleta de desencaminhados e perplexos. Desta forma o autor representa as aporias de uma geração que sente na pele esse exílio da justiça e a crise generalizada de valores.